Perco-me na beleza da paisagem… nesse mar imenso que amo com uma intensidade que raia a loucura.
O reflexo da lua e das poucas estrelas que se atreveram a aparecer, espraia-se nas águas escuras.
Deslumbrante… perfeito em seu mistério.
Lembras-te da última vez que aqui estivemos?
Discutimos por um qualquer motivo sem sentido.
Jantaste sozinho.
Eu resolvi sair.
A noite estava como a de hoje. Fria, escura… um vento desagradável que gelava por dentro… ou talvez por dentro já estivesse gelada…
Fui até à praia. Partilhar as lágrimas com o meu eterno amante. Gelada a areia quando me descalcei. Mais gelada ainda a água. Molhei as mãos e passei-as no rosto… acalmou-me estar ali. O cheiro e o gosto do sal na pele…
Tudo parecia tão sem sentido visto dali. Perante aquele vasto mar mais patético parecia o motivo da discussão.
Estava frio e tinha saído sem casaco. Devia voltar… mas queria ficar, só mais um pouco… Sentei-me numa espreguiçadeira, daquelas que ficam abandonadas na areia para o dia seguinte, e enrolei os braços à volta dos joelhos na tentativa de reunir algum calor.
Só mais um pouco… sentia o corpo meio dormente. Talvez fosse mesmo altura de voltar.
Forcei-me a levantar e a percorrer o espaço que me levava de volta.
Só quando cheguei a casa me apercebi de que saíra sem chave. Não fazia ideia que horas eram… apenas que tinha de tocar à campainha para poder entrar.
Abriste a porta e afastaste-te dando-me passagem.
- Desculpa – disse meio a resmungar – esqueci-me da chave.
“- Quando queres és insuportável, sabias?” – disseste antes de me encostar à parede e de me tapar a boca com um beijo intenso que me impediu de te responder.
“-Sabes a sal…” – sussurraste.
As tuas mãos queimavam na minha pele, acariciando, explorando, despertando um fogo que aos poucos derretia o gelo que era o meu corpo.
Não sei dizer em que momento abriste o body… incómodo obstáculo à vontade que me… que nos consumia.
Apenas lembro quando me puxaste a saia e me levantaste no ar, as minhas pernas envolvendo a tua cintura.
E quando ali, encostados à parede, num precário equilíbrio, me penetraste com urgência. Os meus braços envolviam o teu pescoço e a minha boca devorava a tua sofregamente.
Cada estocada arrancava um gemido de puro prazer. Intenso, vibrante… urgente. Um desejo animal incontrolável que nos guiava, sem espaço para enganos, pela estrada do prazer… até ao limite do suportável… até ao êxtase final…
Os nossos corpos, suados, tremiam… saciados porém.
Bebo mais um gole de vinho…
Gosto destes momentos só meus, mas o que me faz sorrir é saber que não tardas em chegar.